sexta-feira, 23 de maio de 2008

A SUPREMA BENEVOLÊNCIA

(Lao Tsé; Tao Te Ching) - Trad. Albe Pavese (Ed. Madras)

Verso 49 - A SUPREMA BENEVOLÊNCIA

O Sábio não tem coração próprio, pois ele abarca também os corações dos demais.
Ele é bom para com os bons e é igualmente bom para os que não o são.
Porque assim é a verdadeira Bondade.
É sincero com os sinceros e é sincero com os falsos.
Porque assim é a Verdadeira Lealdade.
Por isso, na sua simplicidade, o Sábio permanece em paz.
Seu coração é êquanime para com todos, e o povo volta para ele seus olhos e ouvidos.
E ele os considera como uma mãe a seus próprios filhos.

Kung Fu, com David Carradine

Diálogo tirado da série Kung Fu, com David Carradine:

- Esse homem traiu-me e no entanto o mestre alimenta-o e veste-o.
- E tu não aprovas?
- Diz-se que ele fez um voto, como qualquer um de nós, de nunca revelar os nossos segredos. Diz-se que quando nos deixou, ensinou os camponeses a serem soldados e que os conduziu para a morte, numa rebelião.
- Estou consciente das suas desventuras. E estou igualmente consciente da sua fome e frio.
- Mas mestre, a comida e as roupas novas não o farão recuperar as forças, para partir novamente e continuar a causar sofrimento?
- Podem fazer. Mas, quando ele nos deixar, pela manhã, será que lhe faltará a terra debaixo dos pés? O sol que brilha em todo o lado esconderá dele a sua luz e calor? Transformar-se-á a água em lama quando ele a for beber?
- Se o sol, a terra e a água se abstêm de o julgar, quem sou eu para lhe recusar um cobertor e uma taça de arroz?

terça-feira, 6 de maio de 2008

Nada Existe

Yamaoka Tesshu, quando um jovem estudante Zen, visitou um mestre após outro. Ele então foi até Dokuon de Shokoku. Desejando mostrar o quanto já sabia, ele disse, vaidoso:

- A mente, Buddha, e os seres sencientes, além de tudo, não existem. A verdadeira natureza dos fenómenos é vazia. Não há realização, nenhuma delusão, nenhum sábio, nenhuma mediocridade. Não há o Dar e tampouco nada a receber!
Dokuon, que estava fumando pacientemente, nada disse. Subitamente ele acertou Yamaoka na cabeça com seu longo cachimbo de bambu. Isto fez o jovem ficar muito irritado, gritando xingamentos.

- Se nada existe," perguntou, calmo, Dokuon, "de onde veio toda esta sua raiva?

Sonho

Certa vez o mestre taoista Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta, voando alegremente aqui e ali. No sonho ele não tinha mais a mínima consciência de sua individualidade como pessoa. Ele era realmente uma borboleta. Repentinamente, ele acordou e descobriu-se deitado ali, uma pessoa novamente. Mas então ele pensou para si mesmo:

"Fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta, ou sou agora uma borboleta que sonha ser um homem?"

Equanimidade

Durante as guerras civis na China feudal, um exército invasor poderia facilmente dizimar uma cidade e tomar controle. Numa vila, todos fugiram apavorados ao saberem que um general famoso por sua fúria e crueldade estava se aproximando. Todos excepto um mestre Zen, que vivia afastado.Quando chegou à vila, seus batedores disseram que ninguém mais estava lá, além do monge. O general foi então ao templo, curioso em saber quem era tal homem. Quando ele lá chegou, o monge não o recebeu com a normal submissão e terror com que ele estava acostumado a ser tratado por todos; isso levou o general à fúria.

"Seu tolo!!" ele gritou enquanto desembainhava a espada, "não percebe que você está diante de um homem que pode trucidá-lo num piscar de olhos?!?"Mas o mestre permaneceu completamente tranquilo.

"E você percebe," o mestre replicou calmamente, "que você está diante de um homem que pode ser trucidado num piscar de olhos?"